António
Na Bertrand, onde era o director, chamavam-lhe o Florentino, de tão bonito e inacessível que ele era.
Chama-se António. É um homem lindo, elegante, snob.
É a minha referência, paradigma e a minha grande paixão.
Por sorte e honra, calhou ser pai do meu pai.
Tenho uma adoração infinita pelo meu avô.
É a figura paternal que reconheço, é o amigo com quem falo, com quem bebo, troco livros, oiço música, desabafo sobre a política nacional e falo de exposições.
O meu avô esta-se a matar.
Sem piedade.
Quer continuar a viver como sempre viveu, a fazer o que sempre fez, sem concessões a médicos, à saude, ao tempo, que não perdoa nem a intelectuais e nem a bons vivants.
Sinto-me cumplice de um acto que é mais criminal para mim do que para ele. Mas não consigo fazer outra coisa que ajudá-lo a ter a vida que tem como ele a quer ter, ignorando a sua idade e a minha vontade de o preservar eternamente.
Estou a morrer aos poucos, com uma dor que não sinto mas que me queima por dentro.
Estou a adiar uma partida com medo de um não regresso...
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