Berna

O telefone tocou ‘as tres da manha. Normalmente tenho-o desligado, ontem ficou acesso.

Do outro lado, uma voz disse-me: ‘tenho de ir a Berna mostrar a minha exposicao a uns coleccionadores. Vem ter comigo depois do almoco e voltamos no Sabado para Londres.’

‘As tres da manha, com mais vodka tonic do que sangue no corpo e com o stress post-inauguracao ainda a tomar conta de mim, desliguei o telefone e deixei para a manha a decisao.

‘As sete acordei. Quando bebo nao consigo dormir muito. Achei que tinha sido um sonho e fiquei uns minutos a oscilar entre a realidade e o mundo onirico sem conseguir perceber onde acabava um e comecava o outro.

Confirmei que tinha recebido o telefonema umas horas antes. Descartes e o seu espirito cartesiano por vezes ajudam.

Ainda na cama, abri o computador e marquei o voo.

Assustada, liguei ‘a minha mae, esperando um descasque. Uma voz calma e serena disse: descontrai, goza a vida, nao tenhas expectativas e diverte-te. A vida so’ se vive uma vez.

E assim sera’. Nao ha’ expectativas. O leao assustou mais um dos seus visitantes, que fugiu a sete pes, e agora acena-me com amizade do outro lado da jaula. Vou aproveitar o aceno.

E esperemos que as costuras deste coracao aqui em baixo nao voltem a rebentar.