Monday, March 05, 2007

life

será que tudo isto vale a pena?
conquistas diárias.
lutas para conseguir o que quero.
passar em frente de uma montra e desejar um telemóvel cor-de-rosa que faz o mesmo que o meu.
e, de repente, lembrar que as prioridades são outras, que o consumismo é um mal ocidental, que basta sair daqui e tudo isso acabou.
será que vale a pena viver num país caro e frio, onde ninguém tem tempo para nada, onde o inverno dura 8 meses? onde um café custa o mesmo de 10 no meu país?
onde o meu passe mensal são mais de 20 contos.
onde me olho ao espelho e me vejo escanzelada e branca.
onde fumo mais do que posso e menos do que quero.
onde sonho com o nada em paisagens idílicas anunciadas nos cartazes do metropolitano.
onde viajo através de livros de teoria que ninguém mais lê e que todos aqueles com quem me relaciono já leram.
e em que não saio deste computador branco sem o qual penso não saber quem sou.
será?
será que conheço o amor de mais do que ouvir falar? será que o quero mesmo conhecer?
será que os amigos são mais do que emails e sms recebidos e enviados ocasionalmente?
será que a familia existe para além de um dna minimamente comum?
será que a felicidade se disfarça de alegria para dar sentido a tudo isto?
e enquanto escrevo este post, ouvindo a mesma música em repeat há mais de uma hora, recebo um email que diz:
Hey Miss Spring. The show all in all looks wonderful. Congrats. I am
really happy to be part of it.
Also, forgot to tell you, that it precisely Michael Asher who
introduced me to D'Arcangelo's work... They were in fact friends. So,
that looked as a nice coincidence.
Later, M.
e tudo ganha luz e forma, sorrio, penso que é para isto mesmo que tento conquistar diariamente. que é por isto que luto, que passeio a sonhar com telefones que não quero e que pago 10 cafés e recebo um. que é por isto que suspiro pelos sítios onde não estive, pelos romances que ganham pó, pelo bronzeado que deixei algures na costa vicentina, pelos amigos que não vejo, pelos amores que não conheço, pela familia que não sei se tenho.
porque a felicidade é este suspiro que me chega enquanto resposta ao que pergunto.

18 comments:

Joao said...

1º: nada vale a pena... sete palmos de terra nos esperam
2º: "tudo isto" é muito pouco
3º: deixa estar, com alguma sorte isto pode um dia fazer sentido...
.
Há dias que com muita dificuldade vejo algo que valha a pena, nada faz sentido. E afinal isto é o quê? Tu é que devias ter essa resposta.

Sinapse said...

Belíssimo post!

... digo eu, porque formulo muitas vezes essas mesmas e muitas outras perguntas do mesmo teor ou pendor existencial ...

Mas, cá vamos indo ...

Pitucha said...

Que post fantástico!
Parabéns
Beijos

Anonymous said...

Entre o bom e o mau que se equilibram, ano após ano, num tradeoff quase nulo...a gratificação final é sentir que vivemos, mas vivemos MESMO, vivemos à séria, não andamos aqui a brincar!

125_azul said...

O post é maravilhoso e a essência de tudo está no último parágrafo. Fica bem e tenta fumar menos, please. Beijinhos

Anonymous said...

Al Cabo
de Amalia Bautista


Al cabo, son muy pocas las palabras
que de verdad nos duelen, y muy pocas
las que consiguen alegrar el alma.
Y son también muy pocas las personas
que mueven nuestro corazón, y menos
aún las que lo mueven mucho tiempo.
Al cabo, son poquísimas las cosas
que de verdad importan en la vida:
poder querer a alguien, que nos quieran
y no morir después que nuestros hijos.

Anonymous said...

Cara Miss Spring,

Belissimo post. Um estado de alma que vai as profundezas. Sente-se que tem uma vocacao muito sua que a preenche e que persegue com perseveranca, forca e paixao. Sofre pelo facto deste caminho a afastar de uma serie de coisas que lista como inacessiveis. Mas sera assim? Certamente que protestos contra o preco do cafe e do passe em Londres dar-se-ao por perdidos. Bronze em Londres? So por milagre, frequencia de solario ou participacao nos futuros jogos olimpicos. Mas o resto, devera ser escamoteado? Devera ficar registado como a lista das compras que nao se fizeram? E dificil, e dificil, e dificil, mas ha coisas de que nao deve abdicar.

Nelson Reprezas said...

Mas escreves posts como este.
Parabéns (10, pelo preço de nenhum, o seja, de borla, free, sem custos)
Beijinho

Filipa said...

João,
eu não tenho respostas para nada, também por cá ando à procura delas... entre o nada e o pouco, tento ser feliz... vá-se lá saber porquê! :)

Filipa said...

sinapse: obrigada! saiu do fundo da 'ialma'! pois é, e no meio destas perguntas existênciais que de vez em quando nos atravessam, cá vamos indo! bj

Filipa said...

Pitucha, obrigada... nada que chegue ao pé dos teus posts lindos das gares, mas pronto, este era um suspiro! :)

Filipa said...

anonymous: sim, tens razão...

Filipa said...

125 azul: :) obrigada pela recomendação... eu tento, a sério que eu tento... :D beijinho

Filipa said...

patrícia e sardinha,
ola!! (gosto tanto de ter um gato a escrever comentários no blog!!!) obrigada pelo texto, é lindo. muito obrigada mesmo! :)

Filipa said...

anonymous: obrigado. deu para perceber pelo que me escreveste que captaste perfeitamente o meu estado de espírito! :)

Filipa said...

espumante: 10 parabéns free e assim do nada é muito!!! :) obrigada!!!
bj

francisco carvalho said...

já ontem estive cá mas não consegui palavras para comentar. tudo tinha já sido dito.
hoje voltei para dizer o mais simples: o texto está de facto muito, muito bom. tão à flor da pele, tão no coração do pensamento. e tantos de nós, tantas as vezes, já nem nos sabemos fazer tão necessárias perguntas, já não ousamos aflorar tão urgentes questões...
acrescento: a frase final é de mestre. parabéns, Menina Sageza!

Anonymous said...

O problema é a primavera que tarda em chegar...com ela o sol, que muda todas as coisas. No entretanto, luas e eclipses fazem-nos questionar tudo como se fossemos o ser mais solitário do mundo e as respostas nunca chegassem para tantas dúvidas lúcidas. Talvez sejamos todos um (are we one?), pois sinto que sentimos igual. Podes ver pelo numero de respostas a este post. E este é o suspiro que a mim me alenta. No entretanto, não podemos escapar do terreno que somos (ser humano complica a existência) e precisamos de mais actos do que palavras. Por isso, estou a fazer tudo para te encontrar brevemente. Gostava de falar com tempo e alma, como já não fazemos há muito tempo. Faz pouco percebi que os amigos são a chave. Espero poder ainda mostrar-te isso. Já já, espero abrir essa porta com alegria e encontrar outros suspiros e sorrisos e primaveras, que nos farão olhar de repente para a vida com olhos inversamente felizes à tristeza que por vezes se apodera das mentes mais complexas. Quanto ao que fazes aí, e ao que tens feito, chama-se sonhar. Ninguém disse que iria ser fácil mas nem toda a gente tem coragem de o fazer. Ao menos lutas pelo que queres (ou pelo que a vida te fez neste momento pensar que queres) mas a verdade é que te admiro e invejo por tanta coragem. Às vezes todos vacilamos e caminhamos por caminhos que não nos parecem certos. Curiosamente todos acabam por mostrar porque razão existiram. Já sabes, que pelo menos daqui, donde vejo, prevejo uma vida ainda mais brilhante e cheia de histórias para contar. Espero acompanhar.

"Do not fear mistakes. There are none."
Miles Davis

Far better it is to dare to mighty things, to win glorious triumphs, even though checkered by failure, than to take rank with those poor spirits who neither enjoy much nor suffer much, because they live in the gray twilight that knows not victory nor defeat. Theodore Roosevelt


E vou parar com as citações porque daqui a nada não há mais espaço neste comment room.

All this to say I miss you, I love you, I understand you.

Beijos e até já,
Jo