O eclipse, as docas e o gato

sinto que ninguém vai acreditar nesta história porque parece surreal... eu sei... mas aconteceu, ontem à noite, enquanto estava em frente ao rio à espera do eclipse vi um senhor que caminhava a passos lentos seguido por um gato.
nada de especial, eu fiz bss bss e o gato girou a cabeça, curioso, olhou e voltou a seguir o senhor.
gostou dele, pensei.
sentei-me no jardim em frente ao rio a enrolar um cigarro e o senhor continuava a caminhar, desta vez em círculos mais ou menos longos, e o gato continuava a correr e a esconder-se na relva e nos arbustos, mas sempre atrás dele.
esta imagem fantástica, de um homem que caminha erratica e lentamente e de um gato que o segue todo contente com a cauda no ar, permaneceu em frente aos meus olhos por um bom quarto de hora, que terminou comigo a falar com o dito senhor, que se revelou não inglês mas australiano e que tinha educado assim o gato desde pequeno.
foi um momento demasiado bonito para o conseguir descrever. o rio, o jardim, o frio de uma noite londrina, o eclipse, e um gato que segue feliz e contente, um homem de quem obviamente gosta. e agora, estou aqui a escrever isto e a ouvir música do Michael Nyman, "Debbie".
As lágrimas obscuram os olhos por uma beleza profunda que existe neste mundo e que se revela nos momentos menos adivinhados.
A vida é bonita por isto, acho eu.
E isto é tanto com tão pouco.