Wednesday, April 11, 2007

O saber empírico e socrático


Parece que em Portugal não se deve falar de outra coisa. Eu de há uns quantos dias para cá também confesso que penso nisto diariamente.
Não creio que exista nenhuma lei na Constituição Portuguesa que diga que um indivíduo, para chegar a primeiro-ministro (ou seja onde for), precise de ser licenciado.
Eu não me lembro de ver nos classificados do Expresso algo como: PRECISA-SE PRIMEIRO MINISTRO. REQUISITOS: LICENCIADO, FALAR PORTUGUÊS, FRANCÊS E INGLÊS e por aí adiante.
Há muito boa gente, compentente e inteligente que nunca precisou de estudar para nada.
O Corbusier não era licenciado. O Fernando Pessoa também não. E antes do século XX o problema da educação assumia uma definição muito mais irregular, era uma questão que não se punha em causa com os parâmetros de hoje.
Muitos dos Honoris Causa que para aí andam também não são formados em nada, nem precisam.
Fazem o que devem fazer e fazem-no bem. Tão bem que isso lhes é reconhecido.
Até aqui felizes e contentes todos nós. E creio haver por aí muita gente que partilha comigo esta opinião, a de que não é necessário ter uma licenciatura para se ser bom seja no que for, mesmo Primeiro Ministro.
Que um tipo chamado Sócrates não tenha tido vontade de estudar uns parcos aninhos, que prefira andar por aí a compartir os seus dotes retóricos e a sua sensata oratória com os demais, também me parece muito bem.
Se ele foi astuto suficiente para convencer uma grande parte do eleitorado a nele votar, parece-me ainda melhor.
Que decida acabar com as licenciaturas em filosofia só porque sim já me parece bem pior (ou talvez tenha sido somente a ponta do iceberg de um megalómano plano para extinguir TODAS as licenciaturas, começando exactamente com as com menos defensores, para chegar ao ponto em que a existência - ou não - da sua seria irrosória?)
Que minta ao país que fez dele o que agora é, que diga que tem coisas que não tem e que insista em bater no ceguinho, aí a coisa já me parece bastante mais feia.
É que o Clinton a insistir que não andou a compartir vícios tabagistas com uma estagiária quando a coitadinha até tinha ficado com uma mancha no vestido (já se sabe, no melhor pano cai a nódoa) ainda faz rir e acaba por não fazer mal a ninguém.
Agora que o Primeiro Ministro de um país pobre e abandonado nos arrabaldes da Europa insista que tem um diploma em engenheria quando já todos percebemos que alí há coisa, isso sim, é triste, trágico, deprimente. Ainda mais tendo em conta a universidade que é.
Óh Senhor, ao menos diga que foi no IST, sempre é uma mentira mais bonita!!
Agora mentir e mentir sobre coisas tristes, caramba, mais vale estar caladinho e sentir-se honrado de, mesmo sem canudo, ter chegado onde chegou!

3 comments:

Nelson Reprezas said...

Eu ia escrver sobre isto, como pediste, mas adiantaste-te e o assunto começa a perder actualidade :))
beijinho

125_azul said...

Ora eu concordo em número , género e grau contigo. Também acho que ser engenheiro não é condição indispensável para serprimeiro ministro, mas o homem insiste em fazer de conta que sim... A Carlota do lote 5, 1ºdto publicou um texto delicioso a respeito.
Beijinhos

Sinapse said...

... esta história do Sócrates é uma vergonha!