Monday, April 21, 2008

1.



Há certas coordenadas nos sentimentos que não são controláveis, nem mesmo passíveis de serem analizadas. Há tantos porquês sem respostas, tantas respostas que mudam com o tempo, que se alteram, viajam e ganham novos sentidos, como os significados das palavras.
Uma delas é o que Visconti, através de Dostoevsky, nos transmite no final das 'Notte Bianche'. Vivemos felizes com alguém, com quem somos nós próprios, com quem nos divertidos, aprendemos, conversamos, rimos, choramos, abrimos o nosso coração e respiramos com a tranquilidade e paz de quem é confortável consigo mesmo. Mas a atracção, essa, tende sempre para o estranho, o obscuro, aquele que nos devolve a consciência do nosso ser no mundo, que nos põe em causa, nos julga e nos faz sentir pequeninos. O amor tem de conhecer o sofrimento e a ansiedade para saber existir plenamente. Como a luz, que não pode existir sem a sombra. Porquê?

3 comments:

ulrich said...

o cinema italiano também tem a sua carga de neurose...

quanto ao sublime kantiano, proponho-te a leitura que o Deleuze faz no seu livro sobre Kant e algures noutros livros...

e, pessoalmente, "contra todas as evidências em contrário", continuo a acreditar em amor pleno sem ansiedade nem sofrimento

rafaela said...

Houve uma altura em que pensava que ser mais ou menos feliz com alguém, rir, chorar, fumar um cigarro a janela, ver um filme em casa tranquilamente, eram coisas banais, queria de novo a insegurança dos primeiros tempos, o tudo para descobrir, o sofrimento de não saber o que vem a seguir, porque isso para mim era o amor, e a tranquilidade e a adrenalina não podiam coexistir. Porquê? Acho que não sei, ainda não!

Anonymous said...

Sim. Ansiedade e sofrimento impedem o amor autêntico, embora, normalmente, só nos apercebamos disso depois de passarmos por eles. O que há de bom nos erros, é aprender-se com eles...

Obrigada pela dica literária!