Deize Genuina

Os brasileios que vivem por cima da casa em que eu estou ouvem ininterruptamente a Deize Tigrona a partir das 9 da manha, vulgo alvorada no meu lexico biologico.
Agora, que ja sao 11, cheguei à conclusao que o erudito lirismo desta senhora (a Deize, nao a que a ouve, dessa nao sei nada e espero saber sempre menos) é muito mais prolifico do que alguma vez poderia imaginar. Com um cardapio de mais de 2 horas de melodias e com uma capacidade de falar sempre da mesma coisa sem nunca a mencionar, a Deize é sem duvida um mago da cançao popular. Ainda assim, nao lhe consigo reconhecer qualquer tipo de qualidade, e por isso mesmo, nao percebo sao os portugueses que a ouvem. Duvido muito que se ela cantasse com uma pronuncia ca das nossas a continuassem a ouvir.
Concluo entao, e muito à pressa, que este interesse pelo funk carioca, nao é mais do que uma reminiscencia colonial, uma especie de 'patronising' da cultura musical do desgraçado do brasileiro que mora na favela no outro lado do rio e que de repente acha que esta cheio de dinheiro porque uma editora multinacional qualquer o fez acreditar que assinou o melhor contracto discografico da historia, ao receber uns quantos milhoes de dolares para publicar um, dois ou tres discos dos quais nunca mais vera um chavo.
Na minha modesta opiniao (e tenho que admitir que nao sou grande fa da music brasileira, a minha deve ser uma - nao assumida - arrogancia ultramarina), 90% do funk carioca que para ai anda é mau, é rasca e so existe porque nos, europeus velhos e carcumidos, temos um sentimento de culpa tao infiltrado que gostamos, à partida, do que o brasuca pobrezinho e genuino nos tem para oferecer, mesmo que seja um gaja a gritar sob o pano de fundo de uma drum machine de terceira a tocar sempre o mesmo ritmo.